Noite diferente

A vida era sem graça. Ele andava pelo meio da rua. Já era madrugada mas ele estava descansado. Ele andava sem cansar. Muitos quilômetros.

Trabalhou. Não bebeu. Não fez nada durante o dia. E durante a noite. Nada de importante. Nada do que interessa.

Mais ou menos de seis em seis meses, quando o tédio acumulava demais, ele cismava de sair andando.

Sem destino pela cidade grande. Sempre acabava bem a caminhada. Bom, sempre acabava. Não poderia ser de todo mal acabar em casa — ele nunca esperou nada de diferente. Era bom porque nunca acabou no hospital, nunca na polícia, nunca no cemitério.

Assim ele pensava …

Já passa de duas horas. Ele já não sabe há quanto tempo anda.

Ele cruza com uma menina da noite. Sorridente. Solitária como ele, mas alegre. Alegre !

“Oi menino, vem cá. Qual é o seu nome?”

Nunca chamaram ele de menino.

Ela fala novamente, “Vamos ficar juntos hoje, eu moro aqui perto.”

“Eu não sou quem você imagina. Eu não tenho dinheiro.”

Ele pensava que com este tipo de gente é só falar que não tem dinheiro que tudo morre na hora.

Ela disse, ” eu também não sou quem você imagina, vem cá.”

Chegaram na casa dela. O que aconteceu lá, ninguém sabe ao certo, só os dois. O que se sabe é que ele só saiu de lá 10 horas depois. De maca, sem andar, na ambulância.

No hospital, o médico com vontade de rir disse: “Rapaz, o que você andou fazendo? E por quanto tempo ?! O que você tem é … cãibra no saco !”

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